Pastoral
8 de setembro
A História da Caneta Vermelha
Em maio último, o ex-missionário Jerry Key retornou ao Brasil por alguns dias. No domingo, dia 10, pregou em nossa igreja. Na terça-feira, 12, falou na Capela do Seminário do Sul. Reuniram-se ali diversas gerações de ex-alunos. Key dividiu com o auditório um fato que muito perturbou o seu relacionamento com os brasileiros, no início de seu magistério teológico, na década de 60. Professor de homilética [a arte de pregar], exigia dos alunos que lhe entregassem quinzenalmente um sermão escrito como parte das tarefas escolares. Key lia todos os sermões. Imagino que deve ter sido uma tortura ler o que primeiranistas escreviam. Mas ele lia tudo, fazendo pacientes anotações à margem, com uma caneta vermelha. E nesse processo, cabia-lhe também corrigir os erros gramaticais dos alunos. E isso deixou alguns seminaristas revoltados. O argumento era que como estrangeiro ele não reuniria condições para corrigir os erros de português dos alunos. E contra-argumentavam que ele também os cometia aos montes. Esqueciam evidentemente que quando se aprende uma outra língua como adulto, geralmente se vai à escola. E lá se aprende a forma correta. Por isso é que você jamais ouvirá um estrangeiro falando "nóis fumo" ou "nóis foi". Os erros dos nativos falantes de uma língua são de um tipo. Os dos estrangeiros são de outro.
Nua, crua e triste, a verdade é aquela que Tiago sublinhou: "Todos tropeçamos em muitas coisas..." (Tg 3.2). Erramos falando, escrevendo, dormindo, vivendo... Mas será que os nossos erros não poderiam nos aproximar uns dos outros em vez de nos separar? Retorno a Key para extrair nova lição: ele foi humilde ao ponto de um dia chamar um aluno dos que mais se mostraram ofendidos e lhe pediu desculpas. O aluno o perdoou, e os dois se tornaram grandes amigos. Tanto que o aluno fez questão de estar na capela naquela terça-feira, quase meio século depois. E ao final do culto, me contou esta história.
Pr. João Soares da Fonseca
jsfonseca@pibrj.org.br
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