sábado, 17 de abril de 2010

Pastoral O Boateme 18?4/10

Pastoral

(Domingo, 18 de abril de 2010)

O Boateiro

Stanislaw Ponte Preta contou que a historinha seguinte era corriqueira em Recife, "onde o número de boateiros, desde o movimento militar de 1º de abril, cresceu assustadoramente".

É a história de um homem extremamente mentiroso e dado a criar e divulgar boatos, como poucos. Era só encontrar um grupo disposto a ouvi-lo, e lá ia ele inventando das suas, tipo: "Vocês sabiam que o novo Presidente da República já está preso?". "Na Bahia, os comunistas estão incendiando as igrejas". "Acabaram de matar o Cardeal". Sua glória consistia em ouvir o "Oooohhhh" geral que todos deixavam escapar.

Certo dia, um coronel do Exército, já agastado com a boataria do boateiro, mandou prendê-lo. No quartel, determinou, sem lhe dirigir a palavra, que ele fosse levado imediatamente para um paredão. Convocou um pelotão de fuzilamento, só atirador de primeira; mandou que se lhe vendassem os olhos e bradou a plenos pulmões: "Fogooooo!!!". A barulheira dos tiros foi ensurdecedora. De pânico, susto e medo - tudo junto - o boateiro caiu. Desmaiara.

Ao acordar, ouviu o coronel, de dedo em riste, junto do seu nariz, dizendo, enfurecido: - Olhe aqui, seu pilantra. Desta vez foi só para lhe dar uma lição, compreendeu? Mas se você continuar por aí espalhando boato idiota, eu lhe mando prender de novo; e posso lhe garantir que então vai ser bala de verdade, e não de festim, ouviu bem?

O problema dele não era ouvidos; era a língua. Deixou o quartel e foi para a rua, ainda meio desequilibrado. Encontrou um grupinho de conhecidos:

- E aí, quais são as novidades? - quiseram saber, curiosos.

Olhando para um lado e outro, o boateiro deu provas de que a sua criatividade não fora nem um pouco comprometida pelas balas de festim: - Não contem pra ninguém, mas o nosso exército - que vergonha! - está completamente sem munição.

Pr. João Soares da Fonseca
jsfonseca@pibrj.org.br

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